8 de abril face e blog

Cultura é a capacidade, comum a todos os homens, de atribuir significado à realidade natural ou construída e as ações praticadas pelo próprio homem. Pode-se falar em cultura sergipana como resultante de um processo cumulativo de experiências vividas pelos grupos humanos que se sucedem e interagem no espaço compreendido entre os rios Real e São Francisco.

Nesse território, ao longo do tempo, em continuada interação com as condições do meio, dos projetos coletivos que os grupos humanos colocam para si e das influências recebidas, gera-se uma experiência cultural específica que se revela nas expressões materiais – cidades, casa, industrias – mas também nas criações imateriais, ou seja, cantos, danças, formas de religiosidade diversas, culinária, artesanato, literatura e demais formas de arte.

A formação da cultura em Sergipe se vincula ao processo mais geral da cultura no Brasil. A sua origem resulta da implantação do projeto colonial português, que reúne nesse território populações deslocadas de outros continentes – Europa e África. Culturalmente diferenciados nas suas terras de origem, povos africanos e europeus se espalham índios, também portadores de culturas diversas.

De modo geral no território sergipano, a herança portuguesa trazida pelos colonos constitui um lastro sobre o qual se assentavam as influências dos povos africanos e dos povos indígenas. A fusão dessas heranças diversas e a criação de modos de viver adaptados ao novo meio e aos projetos coletivos vão, ao longo do tempo, moldando os saberes, os fazeres, as expressões artísticas e as celebrações que permeiam a vida dos sergipanos. Em muitas dessa manifestações é possível identificar contribuições específicas de negros e índios. Mas convém lembrar que essas contribuições não permanecem como formas puras e cristalizadas, como o sentido que tinham nas suas culturas de origem. Inseridas na vida social, elas se mesclam com outras formas culturais e, mais que isso, são reinterpretadas, ganham novas formas e novos significados.

A dança de São Gonçalo, por exemplo, é uma expressão cultural de origem lusa, destinada a homenagear um santo português que, segundo a tradição popular, gosta de ser cultuado com danças e cantorias. É muito difundida em várias partes do Brasil e também se faz presente entre as populações rurais sergipanas, constituindo-se uma forma de pagar promessas. Apesar da origem europeia do culto ao santo, na zona do Cotinguiba, onde a presença dos afro-brasileiros foi mais forte, a dança integrante do catolicismo popular assumiu forma na qual é visível a influência negra. Esta se manifesta na música, na coreografia e nos adereços com que se enfeitam os dançarinos. Em outras localidades do Sertão ou do Agreste, a dança de São Gonçalo, embora tenha sentido religioso, apresenta-se de maneiras diferentes, que não sugerem essa influência.

As expressões culturais são dinâmicas, assumindo formas e sentidos que mudam no espaço e no tempo. Conhecer as origens dos bens culturais é importante, mas os seus significados dependem do contexto social em que eles se inscrevem.

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