blog-4-de-novembro

Na terceira década do século XVI, a Mata Atlântica de Alagoas, rica em pau-brasil, atraiu os franceses que, livremente, exploravam, para extração de tinta, o corte dessa árvore abundante em todo o litoral. Para facilitar o embarque, escolheram alguns trechos da praia alagoana que mais se adequavam, por sua situação estratégica, ao escoamento dessa mercadoria, à época bastante valiosa. Os locais ficaram conhecidos como Porto do Francês, até que, depois da divisão do Brasil em capitanias hereditárias, Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, conseguiu expulsar os traficantes do Ibirapitanga. Para isso empreendeu expedições pelo litoral sul, chegando à foz do rio São Francisco. Ali, desviando-se do mar, seguiu o grande Opara, até uma escarpa rochosa, onde instalou uma feitoria, marco do futuro povoado do Penedo, que somente em 1560 seria oficialmente fundado.

 

Nessa trajetória, Duarte Coelho encontrou, pela primeira vez, os caetés. Afáveis em relação aos franceses, assim não se comportaram diante dos portugueses. Enquanto os franceses, tratando habilmente os ameríndios conquistaram-lhes a confiança, os portugueses não mostraram a mesma sagacidade, preferindo a força e a confrontação.

Morreram muitos autóctones e outros tantos se adentraram no continente. A nação dos caetés era formada de vários conglomerados. Esses aborígines proviam sua subsistência por meio da pesca e dos frutos da terra e construíam rústicos instrumentos musicais, entre os quais, a flauta e o maracá. Utensílios de barro eram igualmente confeccionados. Deles foram herdados o preparo do peixe para a alimentação, o feitio das canoas e jangadas, as flechas e arpões e a parede de taipa e outros tapumes de barro, ainda hoje utilizados nas construções populares. Dessa herança cultural permanecem concretas evidências. Duarte Coelho criou várias sesmarias, nas quais, incentivou o cultivo da cana-de-açúcar e a instalação dos engenhos banguês, puxados por animais. Origem econômica de Alagoas, a monocultura açucareira, ampliar-se-ia até os dias de hoje, consolidando os grandes latifúndios e levando à quase total extinção a mata atlântica, para dar lugar aos canaviais. Fracassando a tentativa dos portugueses de escravizar os aborígines, em face do espírito livre e indomável que os movia, essa atividade processou-se lentamente até a desenfreada utilização da escravidão negreira. O produto dos banguês consistia do açúcar, do mel e da raspadura, consoante ocorria em todo o Nordeste. Com a negritude, essa produção cresceu, multiplicou-se e os senhores de engenho atingiram sua fase áurea. Nesses núcleos econômicos instalaram-se as três instituições básicas. A senzala, a casa-grande e a igreja. A senzala, expressão do poder coercitivo material, a igreja, expressão do poder coercitivo imaterial e a casa-grande, célula do poder dominante. É desse tripé que a cultura alagoana começa a se corporificar. Da senzala, surge o sincretismo religioso como forma de preservar as raízes negras da lavagem cerebral impingida pela religião dos brancos. O catolicismo oferecia a paz e a felicidade eternas aos pés de Deus em troca da resignação ao sofrimento terreno e da obediência ao poder temporal.

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