19 de julho blog

 

Ao longo da história brasileira, a seca, ausência e irregularidade das chuvas, em parte da Região Nordeste, tem sido vista ora como um fenômeno climático relacionado à temperatura dos oceanos e ao deslocamento das massas de ar (é o caso do fenômeno El Niño), ora como fenômeno social, que compromete a produção, principalmente de alimentos, aprofundando a pobreza e aumentando as migrações dos trabalhadores rurais. Essas migrações ocorrem do campo para as cidades.

A história tem mostrado que as estiagens, caracterizadas pela falta de chuva ou por sua distribuição irregular, fazem parte das condições climáticas do sertão nordestino ou daquele espaço regional denominado Polígono das Secas. Tem mostrado também que, mesmo nos anos de chuvas regulares, ou seja, de bom inverno, a pobreza da maioria da população sertaneja permanece, numa demonstração de que a seca apenas aprofunda uma situação de dificuldades para as populações que não têm acesso à terra, desempregados ou explorados através dos baixos salários. A seca, portanto, quando ocorre, já encontra uma estrutura social (concentração de terra, concentração de renda e exploração do trabalhador) desvantajosa para a grande maioria da população sertaneja. A falta de chuvas agrava mais a fome, a desnutrição, o desemprego e a migração.

Portanto, atribuir à seca como fenômeno climático o desequilíbrio da nossa economia e a nossa pobreza, não é verdadeiro, pois outras regiões do mundo com condições climáticas adversas se adequaram, superando esse limite do seu meio natural, regularizando suas ações produtivas. No caso de regiões semiáridas, o uso pode ser através do represamento das águas, da extração através de poços profundos, da irrigação, o que permite desenvolver culturas que garantam a produção de alimentos e de outros produtos destinados ao mercado. Algumas regiões do nosso Estado provaram que é possível ter uma economia competitiva, que não tem seus resultados comprometidos pela irregularidade das chuvas. É o caso da produção das frutas tropicais; melão, banana, manga, melancia e acerola, no Vale do Açu (Açu, Ipanguassu e Carnaubais) e na chapada do Apodi, principalmente nos municípios de Mossoró e Baraúnas.

Hoje, com o desenvolvimento do conhecimento científico, das técnicas e da informação, e com governos democráticos, é contraditório constatar que um fenômeno previsível como as estiagens cíclicas ainda é capaz de tornar-se num processo social de consequências dramáticas para as populações pobres do semiárido norte-rio-grandense.

A cada período de seca, assistimos à repetição de um mesmo quadro, com pequenas variações, no qual as políticas e programas criados para “combater as secas” viabilizam, através de carros-pipas, doações de cestas básicas e salário de emergência, a reprodução e manutenção da classe trabalhadora, o que garante custos reduzidos para um contingente enorme, disponível para trabalhar por salários baixos ou ainda através da troca de “favores políticos” (alimentos, salário de emergência, promessas de emprego), reproduzindo o “curral eleitoral” que tem assegurado votos, e que, ao longo do tempo, reproduz políticos conservadores, sem compromissos com as mudanças e com o bem-estar da população.

FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edilson Alves de; ROCHA, Aristotelina Pereira Barreto. Altas, Rio Grande do Norte: espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa: Grafset, 2011.

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