A cultura nordestina traz no seu bojo a forte influência das raízes africanas. O negro deu uma contribuição maior que o aborígine, pois que, mesmo desagregado, encontrou no ambiente da senzala, nos trabalhos do campo feitos em grupo, como também na clandestinidade dos seus cultos religiosos, a forma de preservar e exteriorizar seu potencial criativo no terreno da música. Adotando os elementos da cultura lusitana, conseguiu expropriá-la e impor-lhe, no Brasil, seus valores imateriais, transfigurando-a, especialmente no estilo da dança, no ritmo e nas indumentárias. Mais do que o autóctone, influiu poderosamente na música, dotando-a de instrumentais como o reco-reco, chocalhos, berimbaus, tambores, atabaques, caixas, agogôs etc.
O toque dos atabaques e as danças sensuais são heranças da senzala que, por vezes, se confundem com o baticum aborígine. Esses ritmos se juntaram em simbiose espontânea nas bandas populares através dos instrumentos que a compõem, como a rabeca, herança da Europa, a flauta de bambu, herança ameríndia e a percussão, ora do negro africano, ora do aborígine. A dança de passos firmes, bem ordenada e sincopada, no ritmo do bater do coração é herança ameríndia. Vem da casa-grande a modinha importada de Portugal ou inspirada na saudade de além-mar; das redondilhas, o martelo dos trovadores populares e o cordel. As primeiras escolas comandadas pelos jesuítas ensinaram o decassílabo erudito e a elegância do alexandrino.
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